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Como fazer descrições ARRASADORAS no seu livro

Atualizado: 22 de jul. de 2023

8 passos para escrever uma história que nenhum leitor será capaz de desgrudar
 

Descrições envolventes são DINÂMICAS, não ESTÁTICAS, e é preciso entender isso em todos os sentidos.


O primeiro deles é que a forma de descrever em prosa (escrita de ficção) nem se equipara à forma como nos ensinaram na escola com o Tipo Textual Descritivo. O objetivo, aqui, não é passar no Enem, mas sim escrever um livro envolvente. Há muitas dicas por aí que se baseiam em passar numa prova, mas esse não é o nosso objetivo aqui.


E o segredo é não fazer blocos separados de cada intenção do texto, congelando os fatos e fazendo seu leitor passar por etapas como numa tabela.


Dito isso, o objetivo da descrição é criar uma imagem nítida na mente do leitor sobre a cena discorrida, mas isso eu nem preciso te dizer.


O que é preciso dizer é que boas descrições, como qualquer elemento narrativo, funcionam em simbiose, nunca sozinhas. Ou seja: elas estarão embutidas dentro de diálogos, monólogos, sumários, e até fluxo de consciência, envolvendo o leitor numa espiral de informações que se misturam e se complementam, criando significados mais complexos e dinâmicos que não deixarão ninguém entediado.


Um texto dinâmico também envolve Mostrar, em vez de Contar (o famoso Show Don’t Tell), e já adianto: ele é parte fundamental de uma leitura imersiva e profunda.


Sem mais delongas, vamos aos 8 passos para fazer descrições arrasadoras:



1. Entenda a sua Mensagem Temática


TODA HISTÓRIA PASSA UMA MENSAGEM, e se você não conhece a sua, estará passando uma mesmo assim, provavelmente com sinais equivocados e confundindo o seu leitor.


Quando isso acontece, a história perde a potência e o apelo. Se torna morna, no melhor dos casos. Caótica, no pior deles. Além disso, ter uma Mensagem bem estruturada permite que a gente conheça bem a trama, e então fazer escolhas assertivas sobre todos os elementos narrativos, até de aspectos mais comerciais, como definição do público alvo, sinopse e capa.


A Mensagem é o ponto inicial de QUALQUER decisão tomada no seu livro, e para descrições não é diferente. É através dela que você saberá o que é descartável e o que não é, sem correr o risco de se perder e acabar tirando o que não deve.


Saiba mais na Masterclass: A Mensagem Temática.



2. Conheça seus Personagens


Quem são eles de verdade? Quem são eles por dentro? Estou falando de Conflito Interno.


Esqueça a ficha de caracterização: cor dos olhos, roupas ou qualquer ladainha do tipo, isso é o que menos importará no final das contas.


Parece contraproducente, né? Afinal, como é que eu descreverei meu personagem se as roupas ou as características físicas dele não importam?


Simples. Você não irá descrevê-lo.


Ao menos, não da forma como você está pensando. O Conflito Interno te dirá quem esse personagem é de verdade; as informações que moldarão a Visão de Mundo a ser narrada. É através dessas lentes que o personagem descreverá TUDO ao seu redor, e se a sua história possuir um narrador observador… sugiro que desenvolva uma Visão de Mundo para ele também.


Foque no que importa.


Se você não souber com clareza esse tipo de coisa, suas descrições nunca terão profundidade verdadeira… e ninguém quer escrever um personagem, uma história, sem profundidade, certo?


E, sim, profundidade também é válida, validíssima, para gêneros mais leves, como YA ou mesmo Erótico, a única diferença será a dosagem do Conflito, mas a Visão de Mundo permanece e dará riqueza à narração <3


Essa riqueza, essa profundidade narrativa baseada na Visão de Mundo do Personagem, servirá de... adubo, vamos dizer assim, para boas descrições e uma prosa mais dinâmica e envolvente. Sem ela, a escrita fica travada, sua criatividade mingua, a experiência de escrever se torna penosa, e o texto... acaba tão penoso para o leitor quanto foi para o autor.



3. Desenvolva um raciocínio simbólico


Essa é a chave para personagens bem expostos, e para a construção da Visão de Mundo. O que acontece internamente dentro do seu protagonista será transmitido ao leitor de formas simbólicas, associativas, e não escancaradas.


Por exemplo, se o personagem tem problemas com a autoestima, ele não sairá por aí dizendo "eu não me amo, eu não me valorizo." Ao contrário, ele irá dizer "ninguém me ama, ninguém me valoriza." E mesmo assim, se a história se mantiver só na autocomiseração do protagonista... Vamos ser honestos. Você gosta de estar ao redor de pessoas que só se lamuriam pelos cantos?


Pra sair dessas ciladas, o texto precisará expor essas características, personalidade, traumas e dores de formas mais simbólicas. Mostrando que um personagem não se arruma, você pode começar a construir uma falta de autocuidado característico de quem não se valoriza. Demonstrando sua excessiva necessidade de agradar os outros, você complementa, e assim por diante, seguindo o que a sua história pede.


Isso não só permitirá que a quantidade de descrições diminua, como também elevará a qualidade delas pois tomará funções maiores. Enquanto o personagem fala, anda, pensa e interpreta o mundo, revelará o que há de mais importante sobre si mesmo, construindo uma imagem maior na mente do leitor, e uma experiência de leitura mais divertida.


Observe o seguinte trecho de Os Homens que Não Amavam as Mulheres:


"— Uma declaração, por favor, Super-Blomkvist! — disparou o enviado de um dos jornais vespertinos.

Mikael Blomkvist [...] forçou-se a não levantar os olhos para o céu como fazia todas as vezes que ouvia esse apelido. [...] Era um apelido pronunciado com um toque malicioso, nunca maldoso, mas também nunca verdadeiramente carinhoso. [...] Haviam sido necessários vários anos e méritos jornalísticos bem mais consistentes para que o apelido começasse a se diluir, e Mikael ainda hoje se contraía toda vez que o chamavam de Super-Blomkvist.

Assim, armou um sorriso tranquilo e olhou o enviado do jornal vespertino bem nos olhos.

— Você só precisa inventar alguma coisa. Não é o que costuma fazer quando escreve?

O tom não era áspero. Todos se conheciam um pouco, e os críticos mais ferrenhos de Mikael não tinham vindo. Ele já havia trabalhado com um dos rapazes que estavam ali; quanto à moça da TV4, por pouco não transara com ela numa festa anos antes.

— Eles não acreditam em você — constatou o Dagens Industri, que parecia ter enviado uma foca.

— Pode-se dizer que sim — reconheceu Mikael. Dificilmente poderia responder outra coisa.

— Como está se sentindo?

Apesar da gravidade da situação, nem Mikael nem os jornalistas credenciados puderam deixar de esboçar um sorriso ao ouvir a pergunta. Mikael trocou um olhar com a moça da TV4. Como está se sentindo? Pergunta que os jornalistas sérios dizem ser a única que os repórteres esportivos sabem fazer ao Esportista Sem Fôlego que cruzou a linha de chegada. Mas ele voltou a ficar sério.

— É evidente que só posso lamentar que o tribunal não tenha chegado a outras conclusões — respondeu um tanto formal.

— Três meses de prisão e cento e cinquenta mil coroas por perdas e danos. Não é pouco — disse a moça da TV4.

— Sobreviverei."


Note quanta informação o autor deixou de bandeja, sem parar para descrever de fato:

  • Mikael é um jornalista, de renome, mas se enfiou numa furada judicial e se lascou (injustamente?)

  • Ele tem uma visão de mundo bastante cética, mas também madura; de alguém que olha a vida pelo que ela é, e não pelo que parece

  • Por todo o contexto dado, sabemos que já deve ter passado dos 30, é bastante confiante de si e até, talvez, um tiquinho mulherengo

  • Ele é crítico, não é qualquer jornalista, não faz perguntas superficiais e por tabela também intuímos que não é uma pessoa superficial

  • Também não é pobre, 150 mil coroas pareceu um custo relevante diante da pergunta da moça da TV4

Compreende onde isso vai dar? O personagem não se descreveu. Não mencionou cor de olhos, físico, cabelo nem que tipo de roupa usa. Apenas sua personalidade já evocou uma imagem muito nítida em nossa mente, e quem assistiu o filme do David Fincher já o visualizou na pele do Daniel Craig (<3). Esse é o poder da linguagem simbólica. Isso é semiótica.



Não quero dizer, com isso, que a ficha de caracterização é totalmente irrelevante. Ela é relevante, especialmente em alguns gêneros (como o romance), mas é peça adicional, percebe? Sem Visão de Mundo, sem Conflito Interno, a descrição do personagem será uma casca vazia e frágil só esperando o primeiro toque para se desintegrar.


O simbolismo entra para nos fazer compreender elementos que o texto, em si, não diz abertamente, ou pelo menos não numa sequência informativa (e chata).


Alguns gêneros usarão dos símbolos de forma mais elaborada e interpretativa, mas todo livro usa de simbolismos, porque a própria língua é um conjunto deles (o alfabeto). E é aqui que eu provo que sua história passa uma mensagem, quer você queira, quer não.


TUDO NA SUA HISTÓRIA COMUNICA ALGO. Desde a escolha da cor do céu à cor da roupa ou do cabelo do personagem. Seja ciente disso, não faça escolhas por acaso. Se a cor do abajur descrito é bege, por que é bege? Se o personagem tem sardas no rosto, por que ele tem sardas no rosto?


Esse raciocínio ajudará a entender o próximo tópico…



4. Tenha um Motivo para absolutamente TUDO o que entrar no texto


Como eu gosto de dizer, em livros tudo é permitido. Você pode até mat*r a mãe, contanto que tenha um MOTIVO.


Ter um motivo resume ter uma intenção. Se você sabe os seus porquês, provavelmente já sabe a sua Mensagem, e assim saberá também o que usar, quando usar, em que dose usar, para quê usar.


É simples assim, mas só a prática nos dá essa habilidade. Por isso, treine! Quanto mais intencional forem suas escolhas, especialmente as descritivas, mais prazerosa e fluída será a leitura do seu texto, e assim você consegue ter ainda mais clareza do que é, realmente, necessário ou supérfluo.


Cada cena, cada detalhe de background, cada característica física ou psíquica... TUDO precisa estar amparado por um bom motivo. Esse motivo é a sua Mensagem, e é aqui que as coisas começam a se juntar e fazer sentido.


Na Mentoria e na Leitura Crítica eu vejo com frequência autoras se complicando a vida por não focarem na Mensagem e nos Personagens, criando mais e mais e mais elementos para a história que, muitas vezes, dispersam o Conflito ou já foram simbolicamente representados por outros elementos ou acontecimentos. TENHA FOCO. Pense sempre com o seu Conflito Interno em mente.


Inclusive, essa é uma dica excepcional para quem é maximalista, descreve demais, e acaba com um livro de 800 páginas. Revisando seu texto, pergunte-se a cada sentença: "será que isso já não foi apresentado?" ou "será que eu preciso mesmo desse elemento para provar o meu ponto?".


Com isso em mente, você saberá o que pode ser cortado sem afetar a qualidade da prosa ou assassinar sua voz autoral ;)



5. Entenda as necessidades do seu Gênero


Cada gênero estabelece um molde sob o qual as descrições, e todo o texto, irá se adequar.

Suspense Investigativo, por exemplo, pede por um texto mais seco, visões de mundo mais cruas e até mesmo palavras mais cortantes, cruéis.


Não é o mesmo para o Romance, e dentro do Romance ainda há diversas variações também. Romance de Época aceita mais quantidade descritiva que um YA, por exemplo.


Isso quer dizer que você vai precisar mudar sua forma de escrever para se moldar a um gênero? Não. Significa que você precisa atingir a expectativa de um público alvo específico, e se não houver um alinhamento equilibrado entre o que os seus leitores esperam e o que você entrega, certamente haverá desequilíbrio também na aceitação vs. sua expectativa de aceitação.


Eu, por exemplo, sou do tipo maximalista. ADORO uma bom texto carregado de detalhes e referências filosóficas. Mas eu cresci lendo Anne Rice, e se eu tentar inserir esse molde num Young Adult… Nem preciso dizer, né? Não vai dar certo.


Tudo na vida é equilíbrio. Conheça a si mesma e a sua forma de escrever, então se adapte com assertividade. Isso leva tempo e prática, é preciso testar e amadurecer a escrita, mas é natural e necessário.



6. Componha as Cenas com bom senso


Toda cena precisa ser… bem, composta. Seu leitor precisa andar pelo espaço, se localizar no ambiente e sentir o cheiro e o calor da brisa. Tudo certo até aqui, mas alguns autores, especialmente os iniciantes, tendem a entender essa etapa como um monobloco congelado do espaço-tempo narrativo, onde faz algo como o que se segue:


A sala de Bea era novinha em folha. O sofá, branco como neve fresca no inverno, estava localizado à direita da TV. No meio deles, um tapete felpudo também branco, e uma mesa de estar de mármore com pés dourados que refletiam a luz do céu que penetrava pela vidraça em frente. Era uma bela janela. Dessas de corpo inteiro e que preenchem toda uma parede. As esquadrias, em bronze, deviam ter custado uma fortuna, assim como o vidro duplo blindado para evitar o choque do vento no alto do 45º andar. O apartamento era enorme, com uma cozinha também em mármore rajado magnífico, combinando com as paredes também brancas. Tudo novo, limpo, e sem vida.


Duvido que você chegou até o final, mas se chegou, parabéns. Terá percebido, quem sabe, que eu ainda inseri uma FUNÇÃO, um motivo para toda essa ladainha incansável de voz passiva (estática), mas eu duvido que valeu a pena. Valeu?


Há, sim, autores que brincam com a composição de uma cena para provocar o leitor (Machado de Assis era especialista nisso, Bernard Cornwell também). São geniais, sim. Mas esse é o nível hard, por assim dizer. No geral, o leitor só pulará esse(s) bloco(s) imenso(s) de descrição inútil ou se perderá lá pelo meio com tanta informação entulhando seu cérebro, e nem absorverá o que vier por último.


Se você for fã de clássicos, deverá ter reparado que esse tipo de descrição (as megalomaníacas geniais) são bem comuns entre eles. Mas deixe-me só relembrá-la de que: clássicos são expoentes atemporais de uma geração inteira que morreu na obscuridade tentando fazer o mesmo.


Outro aspecto relevante a se pensar, nestes casos de usar Clássicos como exemplo, é que os tempos mudaram. A forma de leitura também mudou (assim como nossa absorção do mundo, nosso cognitivo). Cem anos atrás, a paciência das pessoas era 100x mais disposta, e eu não preciso recordar ninguém que… Bem, cem anos atrás, não era o proletário quem lia, e sim uma elite econômica que… éééé, talvez não tivesse mais o que fazer do dia, da semana ou do mês inteiro.


Em resumo: nosso tempo é cada vez mais precioso. RESPEITE O TEMPO DO SEU LEITOR. Descreva o que importa; eleja os elementos mais significantes, os mais simbólicos, e esqueça os demais. O leitor irá compor o "a mais" sozinho, e muitas vezes essa é a magia. Desapegue do controle ferrenho de tudo, a nossa imaginação é rica e gosta de ser provocada. Descreva uma gárgula, e já imaginamos um castelo gótico. Descreva uma vidraça e pisos de mármore polido, e já imaginamos um apartamento minimalista.


Isso não quer dizer que é proibido de hoje em diante fazer descrições longas ou ser detalhista. Longe de mim ditar regras, já confessei que amo textos assim. Mas existe limites para tudo, e essas são questões que precisamos levar em conta ao decidir, com intencionalidade, quando e porquê ser minucioso.


Além do mais, você pode ser minucioso equilibrando os detalhes ao longo do texto e da história, sem despejar tudo de uma vez numa sequência de informações paradas que arrastam a leitura e não permitem que o leitor se envolva na história num nível pessoal.



7. Construa a Atmosfera antes de pensar no "aesthetic" dos posts de lançamento


Eu aposto que você já viu um post assim: uma foto bonita ou um vídeo, e uma setinha dizendo “o aesthetic do meu livro”. E eu aposto que você já leu um livro desses e percebeu que… É. Tinha alguma coisa desse “aesthetic” lá dentro, mas nada tão incrível assim.


A Atmosfera é um artifício narrativo real e MA-RA-VI-LHO-SO. Não o subestime!


Eu confesso abertamente que o livro não precisa ter qualidade nenhuma pra eu gostar dele, contanto que me fisgue pelas sensações criada ali dentro. Atmosfera bem construída é como um Buraco Negro. Ela te suga pra dentro, e se tiver volta, você não sairá de lá a mesma pessoa de antes.


Observe blockbusters controversos como Crepúsculo, Cinquenta Tons de Cinza, ACOTAR e outros livros que adoramos odiar (eu amo Crepúsculo, me deem licença).


Todos eles têm, sim, suas falhas, mas todos eles possuem uma atmosfera tão incrível quanto envolvente, que nos suga para dentro das páginas e nos faz sonhar acordadas quando fora delas.


Pra mim, esse é o segredo. Digo: O segredo. Componha uma atmosfera intensa, e já era. O leitor nem vai se importar com o resto! (hahahaha não! Não é pra você esquecer do resto!)


Como se faz isso? É tão simples que chega a ser redundante. SIMBOLISMO.


Construir bem uma Atmosfera envolve, principalmente, um super foco no Conflito e no Personagem, usando do raciocínio simbólico para criar mais do que foi descrito de verdade. Não é só "trabalhar os 5 sentidos", mas o 6º, e o 7º! Um mísero ponto passa a ter cheiro se você pegar o jeito dos tópicos passados e usá-los intencionalmente.


Bem. Você pode fazer isso da forma mais sofrida pro leitor, como acontece em ACOTAR, com descrições pobres, aleatórias e controversas… mas que, no fim, constroem um mundo à duras penas. As descrições acertam o conflito em sua maior parte, mas se perdem em muitas outras e enrolam sem necessidade com aspectos já inseridos ou mal trabalhados. (Vide capítulo 1, se quiser uma prova).


Ou você pode fazer isso com a maestria gloriosa de uma saga como GoT. Tem quem diga que o George extrapola nas descrições? Sim, mas ninguém reclama de verdade.


Toda história constrói mundo, e tudo nela comunica algo. Seja intencional, e se não quiser descrever tanto, sem crises. Hemingway ficou famoso por sua escrita seca e direta ao ponto, mesmo assim construindo atmosferas tão f.d!das quanto um romance gótico de categoria.



8. Saiba Mostrar, em vez de Contar


Embora eu tenha deixado esse tópico pro final, ele é, arrisco dizer, o mais importante de todos. Mas ele só funciona se os demais forem bem desenvolvidos e compreendidos.


Mostrar é sobre expor a cena para que o leitor a absorva por si mesmo. Que ele faça as análises por si mesmo, e tire conclusões por si mesmo do que está sendo exposto. Significa dinamizar a narrativa até o último nível, tornando a leitura o mais imersiva possível, e a carga dramática tão verdadeira que viver na sua história parecerá uma experiência real.


De forma bem simplista, mostrar é como um filme, enquanto contar é uma imagem estática, uma fotografia.


Para descrições, o importante é gerar movimento onde não existe nenhum. Em vez de esmiuçar um panorama pelos olhos do seu personagem diante de uma janela, torne o leitor o próprio personagem, faça-o caminhar pelo ambiente, sentir o toque da brisa e do mármore frio, ouvir os sons da cidade, comer o pão recém assado da padaria ao lado (sem usar as palavras filtro, ein! Não trapaceie!).


Isso é, também, construir a atmosfera, ter intencionalidade, e desenvolver tanto o personagem quanto a trama ao mesmo tempo. Percebe?


"Um frio surdo me saudou dentro do apartamento de Bea. Meus passos ecoaram pelo mármore polido, os olhos ofuscados pelo branco resplandecente das mobílias. Talvez eu devesse ter tirado os sapatos ao entrar, e uma urgência cuidadosa me invadiu. Não planejava me demorar ali, mas perdi o fôlego diante da vista. Não se ouvia nada do trânsito caótico através da vidraça robusta, apenas a estática dos eletrodomésticos na cozinha e o vazio oco das paredes ascéticas."



Bem melhor que a primeira versão, não acha? O trecho agora diz tanto sobre Bea, quanto o personagem narrador, e nos faz, como leitores, nos APROPRIAR do espaço, não só visualizá-lo.


O segredo em mostrar é: GERAR UMA EXPERIÊNCIA, não só escrever uma história.


Uma experiência completa evoca emoções, sensações físicas, movimento, significados pessoais, composição do ambiente, passado e futuro gerando anseios mais profundos, medos e sonhos e até lembranças de um vazio interior criando julgamentos sobre o suposto vazio do outro.


Isso é Mostrar. E é o significado máximo do que buscamos numa história.


Quando não sabemos mostrar, nosso texto parece raso e corrido. Um erro comum nestas situações é que o autor confunde falta de uma experiência mais profunda por falta de descrição, e volte inserindo mais e mais e mais detalhes, tentando sanar o problema. Eu já fiz isso, e é uma saída inconsciente que vejo muita gente tomar também. Nem preciso dizer que não é dessa forma que damos carga emocional para a história. Pior, acabamos com um livro de 800 páginas, quando o comum do gênero é 300.


Dê movimento e significado para as suas descrições, use-as na dose certa e com intencionalidade, e eu garanto que o impacto que seu livro causará será ainda maior, com uma leitura muito menos penosa.



Saiba reconhecer as oportunidades que a história te oferece!


Boas descrições não são inseridas por acaso, elas respeitam o ritmo da cena, o passo do personagem… e a paciência do leitor. Quanto mais você entremear uma descrição aqui e outra ali, mais divertida é a experiência. E o melhor, com prática e atenção, a sua escrita te indicará as oportunidades. Será como uma vozinha na sua cabeça, dizendo “aqui é o lugar perfeito para expor ao leitor que o personagem usa sapatos trocados e meias coloridas.” Bônus extra se você souber movimentar as coisas, usando o Mostre, Não Conte.


Fazendo isso, eu garanto que o seu leitor não desejará pular nenhum parágrafo do seu livro, e ficará agarrado às páginas até o fim, dilacerado pela perspectiva de que a história em breve terminará, e ele retornará para a realidade que vive.



Quer aprender ainda mais ferramentas que nos ajudam a Mostrar em vez de Contar?


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Te vejo lá e boa escrita! :)

1 Comment


Goimary Santos
Goimary Santos
Jan 16, 2023

Postagem bastante completa. Obrigada pelas informações!!😊

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© 2022 Amanda Castoldi Tavares

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